Pintura, Séc. XVII
Óleo Sobre Tela
A Virgem Maria, com o Menino ao colo, São José e Isabel, estão reunidos num bosque paradisíaco, repleto de árvores de fruto e flores de variadas tonalidades, preparando-se para uma pequena refeição.
Um anjo, ajoelhado e representado no canto inferior direito da imagem, auxilia a Virgem, segurando um prato de ouro, do qual Maria, utilizando uma colher de prata, serve a sopa ao Menino Jesus que surge representado de pé, sustentado pelas pernas da própria Virgem.
Atrás, surge-nos representada igualmente de pé, coberta por um manto vermelho e com um pássaro na mão, a figura de João Baptista.
A representação da Sagrada Família com Santa Isabel e São João Batista é um tema recorrente em composições pictóricas de cariz religioso, sendo especialmente famosa a obra que o pintor flamengo Rubens assinou, cerca de 1615, com essa temática e num estilo marcadamente barroco.
Em Portugal, com essa temática, é muito conhecida a obra de 1678, da autoria de Josefa de Óbidos, adquirida em 2016 pelo Museu da Misericórdia do Porto. Do mesmo período e temática é a obra de Bento Coelho da Silveira, pertencente à coleção do Museu Nacional Machado de Castro.
No plano religioso “Sagrada Família” é o termo normalmente utilizado para designar a família de Jesus de Nazaré, composta por José, Maria e Jesus.
Na maior parte das composições artísticas, a Sagrada Família, que representa o amor, a veneração e o respeito mútuo que deve reinar entre componentes de um mesmo agregado, apresenta ainda uma série de símbolos “escondidos” que poderemos identificar na pintura aqui exposta.
O véu branco da Virgem é sinal de pureza e de virgindade, o manto azul que a cobre, representa a proteção celeste e a túnica vermelha (que envolve Jesus), simboliza as mulheres da Palestina que tinham o privilégio de ser mães. A indumentária de Maria, representava assim, simbolicamente “Virgem e Mãe”. Por último, a túnica branca do Menino, que aqui representa a pureza do coração das crianças e a santidade de Jesus Cristo.
A Misericórdia – A única família para aqueles que já não a tinham
A Santa Casa da Misericórdia de Évora, através do desenvolvimento das suas práticas assistenciais e/ou de culto, tem funcionado por inúmeras vezes ao longo da sua História, como a única família daqueles que de forma natural, prematura, desafortunada ou por incúria, perderam, repentinamente, os seus entes mais próximos.
Para esses, dos quais podemos destacar, por exemplo, os viúvos, os órfãos, os presos, os indigentes, os doentes ou os inaptos para o trabalho, a Misericórdia foi a “família” que os acolheu debaixo de um teto; que os abrigou das intempéries; que lhes saciou a sede e a fome; que os vestiu quando nada tinham para vestir; que lhe deu esmolas para aquisição dos bens mais essenciais para a sua sobrevivência; que os abençoou espiritualmente, quando a Fé era a única força a que poderiam recorrer; e que, acima de tudo, como sinal de amor fraterno, lhes estendeu a mão quando, e sempre, que precisaram.
A exemplo das restantes pinturas presentes nesta sala, também a “Sagrada Família” retornou à Igreja da Misericórdia, desta vez para integrar o Núcleo Museológico, depois de ter estado exposta, durante anos, no Lar de Nossa Senhora da Visitação.
O quadro em questão, foi alvo de restauro na mais recente campanha. De entre as patologias de que padecia, destacavam-se pequenos enfolamentos na tela e o destacamento da camada pictórica.
Para além da pintura, a representação da Sagrada Família tem servido de temática a inúmeras outras manifestações artísticas. A famosa Sagrada Família de Barcelona, da autoria de Gaudi, é uma das expressões mais brilhantes desta representação.