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Dar bom conselho a quem o pede

Bernardes, 1716
Painel da capela-mor, lado do evangelho. Cena do Novo Testamento, tal como todas as representadas nos painéis principais de azulejaria evocativos das Sete Obras de Misericórdia Espirituais. Esta obra representa a parábola do jovem rico, que perguntou a Jesus o que deveria fazer para ser perfeito. Segundo São Mateus, Jesus respondeu-lhe: “Se quiseres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me.” No painel, dois grupos de figuras encaixam-se no espaço que ladeia a porta existente. O contrataste entre a caracterização dos dois grupos é grande, uma vez que do lado do jovem rico os trajes são bem mais requintados do que as roupagens vestidas pelos seguidores de Jesus, o que vem ao encontro das Suas palavras e evidencia a Sua doutrina. As expressões dos grupos opostos denunciam o conteúdo da conversa entre Jesus e o jovem rico, que não conseguiu desfazer-se dos seus bens para seguir o Mestre. Por outro lado, se as figuras da esquerda se dirigem a Jesus, os da direita apontam no sentido contrário, como que desejando partir e não ser confrontados com tão dura tarefa.

Ensinar os simples

Bernardes, 1716
Painel da nave, lado do evangelho. Num cenário marcado pela natureza, com árvores e arbustos, Jesus encontra-se ao centro da composição, sentado numa rocha e gesticulando como se estivesse a demonstrar algo. As figuras a quem se dirige agrupam-se de ambos os lados da porta, adaptando-se aos espaços disponíveis. À esquerda, um grupo de pessoas amontoa-se em primeiro plano, surgindo mais dois pequenos grupos em planos mais recuados. Do lado oposto, duas mulheres sentadas, escutam atentamente Jesus, que olha para elas, enquanto as restantes figuras, de pé, se encontram ligeiramente afastadas. Na verdade, Jesus explica como se deve rezar e ensina o Pai Nosso aos seus seguidores, acrescentando que quem perdoar será perdoado. Na cartela do rodapé pode ler-se as inscrições: “Exerce a caridade com os enfermos” e “Fortalece os débeis”.

Consolar os tristes e os desconsolados

Bernardes, 1716

Neste painel, na nave, no lado do evangelho, representa-se a “Ressurreição de Lázaro”, que surge ainda enfaixado, no momento em que Jesus lhe ordena que saia da gruta onde estava sepultado havia quatro dias, reclamando depois que lhe retirassem as faixas de pano e o deixassem andar. É o que fazem alguns dos homens que vieram com Maria ao encontro de Jesus, enquanto as duas irmãs, Marta e Maria, se ajoelham perante o milagre. O grupo de homens atrás de Jesus, observa a cena e troca impressões entre si. São os judeus que estando com Maria em sua casa, a seguiram. O cenário é uma espécie de ponte, assente sobre arcos, onde se encontram três homens a espreitar e a gesticular. Ao fundo, ergue-se uma torre ameada com remate cónico. A ponte traça uma linha diagonal que acompanha o grupo que rodeia Lázaro, e termina na figura de Jesus, com os braços estendidos, conduzindo o olhar do observador para o momento mais importante da representação. Nas cartelas de rodapé, aves em torno de árvores, aludem à hospitalidade, com as inscrições “Recebe os vagabundos como hóspedes” e “Acolhe com hospitalidade todos os viajantes ou perdidos no caaminho”. Há ainda uma romã sobre um monte com as inscrições “Misericordioso para todos” e “A ninguém nega os seus préstimos”.

Castigar com caridade os que erram

Bernardes, 1716

Painel da nave, no lado evangelho, alude à expulsão dos vendilhões do Templo, indignando-se porque os vendedores faziam do Templo de seu Pai uma feira. Ao centro de uma construção formada por dois corpos laterais e um mais recuado, todos sustentados por pilastras e abertos por arco de volta perfeita, Jesus ergue o chicote de cordas, preparando-se para o abater sobre os vendedores que se afastam e fogem. Atrás, já outros procuram sair do Templo levando consigo alguns dos seus haveres e, em primeiro plano, um cão assiste a tudo. No chão, uma mesa está tombada, tal como dois homens que caíram sobre animais. Mais à direita, e já na rua, encontram-se alguns burros ou cavalos. Toda a composição segue uma orientação da esquerda para a direita, organizando-se em linhas diagonais que destacam a figura de Jesus, dividindo-se, depois, em outras três linhas imaginárias que vão baixando até ao chão, onde jazem alguns homens. Nas cartelas do rodapé, surgem arbustos, representando a roupa, os quais se referem à obra “Vestir os nus”. Depois, duas árvores com trepadeiras e um homem com as inscrições “Casa as solteiras para não estarem em perigo” - “Casa-as para que não caiam.”

Sofrer as injúrias com paciência – Banquete na casa de Simão

Bernardes, 1716

Painel da nave, no lado da epístola. Ilustra Jesus em Nazaré perante a incredulidade dos seus conterrâneos e sofrendo as injúrias que lhe eram dirigidas porque o conheciam desde o nascimento e não percebiam porque era Ele o Messias. Num cenário marcado pelas diagonais e pelas linhas das balaustradas das escadas e varandas, Jesus, ao centro e de braço no ar, fala para os dois grupos de homens e mulheres que o escutam, em pé ou sentados. Atrás, desenvolve-se uma confusa arquitectura de arcos e pilastras. À direita, em primeiro plano, surgem quatro mulheres ajoelhadas, enquanto um outro grupo parece espreitar atrás de um pilar e, mais atrás, cinco figuras. Do lado oposto, novamente quatro mulheres sentadas, uma das quais com uma criança e, de pé, uma série de homens.

Sofrer as fraquezas do Próximo – Sermão de Jesus em Nazaré

Bernardes, 1716

Painel do fundo da nave, no lado da epístola. Cena representada pela pecadora arrependida a lavar os pés de Cristo. Tem por cenário a casa do fariseu Simeão, que tinha convidado Jesus para a sua mesa. Surge, então, uma mulher pecadora que lava os pés de Jesus com as suas lágrimas, secando-os com os seus cabelos. Simão quer explicar a Jesus que espécie de mulher é aquela, mas Jesus responde-lhe que o seu amor fez com que os pecados lhe fossem perdoados, o que provocou a interrogação e o espanto dos restantes convivas. A composição é dominada por uma mesa e tem como pano de fundo uma arquitectura em perspectiva, aberta por uma sucessão de arcos e abóbadas de arestas, flanqueados por pilastras caneladas e dois arcos de volta perfeita, que se abrem para outros espaços também cobertos pelo mesmo género de abóbada. Neste painel, a figura de Jesus está deslocada para a direita, ocupando a mulher que lhe lava os pés um lugar mais central. Os convidados de Simeão encontram-se ao redor da mesa, onde se observam pratos e outros resquícios da refeição, destacando-se dois deles, enquadrados pelo arco central. À esquerda, um grupo de homens parece espreitar, e do lado oposto chegam serviçais com um jarro e pratos.

Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos – Sermão da última Ceia

Bernardes, 1716

Painel da nave, no lado da epístola. Representa a oração de Cristo após a Última Ceia e não a ressurreição de Lázaro como indicado no versículo da legenda “Pai, quero que onde Eu estiver estejam também aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória.” Sobre uma varanda, com escadas à esquerda, e uma coluna a dividir a cena, Jesus, rodeado pelos discípulos, olha para a frente com as mãos abertas. O que está em primeiro plano encontra-se com um joelho por terra e os restantes estão de pé. Todos se entreolham e apontam ou observam Jesus, fazendo convergir o olhar do observador na Sua figura. O mesmo se passa do lado oposto, onde um homem aponta para a cena central, mas olha para os outros dois, junto à escada. Atrás abre-se um arco de volta perfeita, prolongado por um espaço coberto por abóbada de arestas. Em baixo, o piso inferior é fechado por grades, e a escada tem a protege-la uma balaustrada.
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