No período tardo-medieval, que antecedeu a fundação das Misericórdias portuguesas, muitos fiéis leigos, individualmente, ou em grupo, passaram a desenvolver ações de caridade, mais ou menos concertadas, em torno da assistência aos mais necessitados.
Seria neste contexto, e nesta nova tendência de manifestação de Fé, mais próxima de Cristo, que nasceriam inúmeras confrarias um pouco por toda a Europa, tanto no espaço rural como no urbano, que se dedicavam à prática de obras de devoção e de misericórdia para com o “próximo”.
Quando, no final do Século XV são fundadas as primeiras Misericórdias, por iniciativa de D. Leonor e com alto patrocínio do seu irmão, o Rei D. Manuel, estas vão tendencialmente instalar-se em pequenas capelas ou claustros de igrejas, no caso de Évora, na Capela de São Joãozinho, anexa ao Convento de São Francisco.
Naqueles espaços, muitas vezes exíguos na sua génese, os irmãos reuniam-se para o culto e era dali que, de uma forma organizada, partiam para a execução das obras de misericórdia pela cidade.
Em 1516, no primeiro Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que serviria de modelo para as outras Irmandades, incluindo a de Évora, seriam identificadas as catorze Obras de Misericórdia:
Espirituais – ensinar os simples; dar bom conselho a quem o pede; castigar com caridade quem errou; consolar os tristes desconsolados; perdoar a quem errou; sofrer as injúrias com paciência; rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Corporais – remir os cativos e visitar os presos; curar os enfermos; cobrir os nus; dar de comer aos famintos; dar de beber a quem tem sede; dar pousada aos peregrinos e pobres; enterrar os finados.
Contrariamente àquilo que se exercia na generalidade das confrarias congéneres europeias, onde se praticavam uma ou duas obras, as Misericórdias portuguesas trariam consigo uma inovação sem precedentes, que poderemos considerar como totalizante, por enquadrarem na sua prática assistencial todas as obras ao mesmo tempo.
A Misericórdia de Évora tem assim, desde a sua fundação em 1499, procurado suprir, aliviar ou minorar, as necessidades espirituais e corporais de todos aqueles que a ela têm recorrido ao longo dos mais de cinco séculos da sua existência.
Nesta sala expositiva encontraremos alguns exemplos práticos da ação desenvolvida pela Misericórdia nestas áreas, quer na vertente espiritual, aqui representada pela iconografia, quer na vertente corporal, que para melhor compreensão surge subdividida em “obras de saúde” e “outras obras de assistência”.