Mobiliário, 1784
Madeira entalhada e envernizada
Teia, ferro fundido e vidro
Arcaz de madeira, embutido, constituído por dois corpos de gavetas com três unidades cada e por pequenos armários laterais, com tampo livre, protegido por espaldar.
As gavetas são adornadas por um friso em meia cava, de cantos curvilíneos, com uma almofada saliente, dois puxadores e fechadura (em ferro forjado), onde se representa o baptismo de Jesus Cristo.
O espaldar, por sua vez, é composto por seis painéis com almofadas salientes (curvas e contracurvas) independentes, que se encontram divididas por pilastras, coroadas com urnas.
No centro do espaldar ergue-se uma maquineta, com porta envidraçada, pilastras oblíquas nas laterais e frontão contracurvado, coroado com concheados rococó.
Os arcazes, também conhecidos nalgumas fontes históricas, como “almários” (ou armários), “caixões” ou, simplesmente, como “arcas”, eram móveis de Sacristia, normalmente de grande extensão, compostos por gavetões, de dimensões igualmente significativas.
Devido à sua volumetria e às suas características funcionais, os arcazes encontravam-se, normalmente, encostados à parede (ou paredes) mais compridas da Sacristia, ali permanecendo, inamovíveis, durante décadas ou mesmo séculos.
A sua principal funcionalidade era a de armazenar, nos gavetões, os paramentos, habitualmente estendidos, para preservar as suas formas e todos os elementos e adornos que os compunham.
Será importante referir que vestes sacras, como as dalmáticas, as casulas, ou os pluviais, são, nalguns casos, peças de enorme recorte técnico e de minucioso trabalho têxtil, pelo que, é de todo conveniente evitar a dobragem.
O Arcaz – símbolo da Sacristia, da Paramentaria e dos Capelães
O arcaz que aqui admiramos foi produzido durante o ano económico de 1783-1784, por ordem da Mesa Administrativa da altura, e sob a supervisão do tesoureiro da Misericórdia, que registaria todas as despesas expendidas com a sua feitura.
A voluptuosidade e funcionalidade do arcaz, fazem dele um dos maiores símbolos da Sacristia, da paramentaria, de uso dos capelães, e consequentemente, do próprio culto religioso associado à Igreja da Misericórdia de Évora.
Era no arcaz que eram guardados e preservados os paramentos utilizados pelos capelães da Misericórdia nos mais diversos serviços litúrgicos realizados dentro e fora do templo (missas, funerais, procissões, visita a doentes e presos, etc.)
O Arcaz representa assim a vida, obra e preparação dos capelães da Misericórdia, a importância da sua missão e a relevância que o “espaço sacristia” sempre assumiu na Igreja das Misericórdias.
A Misericórdia de Évora conserva ainda, na sua posse, mais de duas dezenas de paramentos dos séculos XVII, XVIII e XIX. Falamos, por exemplo de casulas, dalmáticas, pluviais ou véus de ombros, entre muitas outras peças.
Com acessórios de paramentaria destacamos, uma lindíssima umbela setecentista com franja de fio de metal dourado.